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sábado, 25 de maio de 2013

SEJA QUE SANTO FOR!

                                      Foto da Web - Folia do Divino.

O Pouso de Folia é uma festa que teve origem com os reis alemães da baixa idade média quando percorriam a região angariando fundos para alimentar e prover o povo em época de penúria. Compõe-se de centenas de cavaleiros que durante uma semana ou mais percorrem a zona rural visitando fazendas com os seguintes objetivos: Levar as bênçãos do santo em questão, recolher esmolas e chamar o povo para a festa onde a alimentação e o pernoite é dado aos devotos foliões por fazendeiros. 

Quintino era um folião solitário e era devoto de todos os santos. Ele saia pelas fazendas e qualquer casa rural fazendo suas rezas, cantando e pedindo ajuda para a causa do santo [“da vez”] começando nos dias 05 e 06 de janeiro a Folia de Reis, depois dias 19/20 do mesmo mês a Folia para São Sebastião e assim seguia o ano todo. 

O grande problema é que o Quintino pegava dinheiro emprestado com o Santo Reis para comprar botinas novas para peregrinar, já que não tinha cavalo e para outras necessidades básicas... Os pobres ficavam sem essa ajuda, pois não sobrava nada das esmolas que tinha ganhado com a folia, e claro que o “pouso de folia” não era feito, pois dependia de ricos fazendeiros e uma credibilidade que ele não tinha. Acabada a “Folia de Reis”, vinha a “Folia de São Sebastião... Ele pegava o dinheiro de São Sebastião para pagar Reis, e ficava devendo para o último e assim sucessivamente. 

Toda a parafernália dele se resumia em um pandeiro, gogó [para cantar e rezar], um pau enfeitado com fitas coloridas [conforme a cor do santo] e uma bandeira com o santo estampado. E claro, muita imaginação, cara de pau e “se virar nos trinta quando necessário.” 

Numa dessas peregrinações de folia ele notou uma família nova no percurso e resolveu “investigar” para saber se eram católicos ou crentes, já que nesse último caso ele seria escorraçado. Fincou a bandeira na frente da casa e foi até lá dentro pedir uma água fresquinha e por lá proseou um pouco e descobriu que não eram devotos de nenhum santo e “daquele mato não ia sair nenhum coelho”. 

Quando saiu da casa notou desolado que as vacas tinham comido a bandeira[ É... Algumas vacas comem panos e uma bandeira suadinha deve ser uma delícia.] Quintino ruminava os pensamentos em como continuar sua peregrinação sem a bandeira, enquanto as vacas ruminavam o santo... 

Não era homem de se abater por detalhes, ainda havia a haste da bandeira e seguiria em sua jornada. Caminhou até a próxima fazenda onde morava o seu Nabi, um dos devotos que ajudava bastante a causa. E chegou cantando assim: 

“Seu Nabi, venha ver o que aconteceu! 
Venha beijar o pau santo, 
Pois a bandeira dele a vaca comeu.” 

E num é que deu certo? Claro que seu Nabi não era tão devoto assim pra beijar o pau do santo, mas deu uma boa contribuição, pois sabia da peleja que Quintino tinha para pagar o santo anterior. 

E assim viveu Quintino nos tempos áureos dos pousos de folia. Cada um sobrevive como pode e ele podia assim... Embora crê-se que ele morreu em dívida com São João, pois se foi bem no finalzinho de junho e em plena atividade religiosa... 

Marly Bastos

3 comentários:

  1. Marly, quando começou a falar em dívida, logo imaginei que algum santo não ia receber (rss). Mas se cobriu o que devia aos anteriores, não era mau. Precisava sobreviver e certamente foi perdoado. Bjs.

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  2. Marly, que coisa mais gostosa ver você por aqui. Vim só para dar aquele doce beijo correndo!
    Manoel

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  3. Olá querida,

    Só do Quintino ser devoto de todos os santos já mostra a esperteza dele-rs. E é como você diz, "cada um sobrevive como pode". Dos males o menor, pois é preferível dever para o santo do que optar por outras artimanhas-rs.

    Beijão.

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