Queria tanto fazer versos alegres!
Desses que fala de flores coloridas, céu azul, borboletas,
Crianças brincando, passarinhos, doces paragens, infância feliz,
Amor correspondido... Queria falar de você!
Minhas palavras não vão longe...
Pois começo a derramar teu nome pelos meus olhos,
Que lentamente escorrem face abaixo e amargam meu paladar.
[Seu nome não é doce!].
Queria tanto fazer versos alegres como músicas...
Harmonicamente chamo-te pelo avesso,
Com passos dançantes, visito teu reverso,
Procuro teus acordes e não encontro minhas notas...
[Nem minha inspiração]
Dedilho tuas entranhas e não encontro meus ecos.
Teu direito não me tem, teu contrário me esqueceu...
[Tudo está tão sem rimas]
Queria fazer versos alegres!
Daqueles que nos fazem ver “passarinhos verdes”,
“lamber lixa de parede”
“viajar na maionese”,
“pisar no tomate”,
Tomar “chá de rosa azul,
E ter “olhar cor de rosa”.
Queria versos que fluíssem com lembranças do amor de outrora,
Dos planos futuros, das brincadeiras de roda, da serenidade da face,
Da emoção da prosa em verso que fazias e declamava aos meus ouvidos,
Da admiração dos teus olhos ao ver-me quase nua e quase tua.
Eu faria versos alegres...
Se eu lembrasse tão somente do perfume das rosas que me ofertaste,
Porém, lembro-me, tão somente que tentei preservar-lhes a vida ao máximo,
aparando seus talos já mortos, prolongando-lhes o vigor.
E somente as jogava fora quando já haviam caído todas as pétalas.
Hoje estou como elas, só talos. Todavia, eu me regenero,
Mesmo que o ciclo que tenho que percorrer seja longo.
Eu faria versos alegre se não me sentisse
Lesada pelos beijos que não me deste,
Pelo afago que não senti,
Pelas tuas palavras sussurradas que não chegaram aos meus ouvidos,
Pela ausência do teu riso que alegrava meu coração.
Você roubou-me tua presença...
Eu farei de novo versos alegres quando a minha carência tua,
Já não mais houver... Ela um dia será suprida, pois nada é pra sempre.
[Pois pra sempre não existe...].
Essa ausência,
Deve durar o tempo em que for alimentada pela minha alma distraída,
Depois ela, a ausência, irá ao seu encontro, e aí, não será mais minha.
[Porém tua...]
Marly Bastos