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terça-feira, 30 de outubro de 2012

HORAS MORNAS E INÚTEIS



O tempo se comprime e dilata 
e já nem sei das horas que passo tentando decifrar essa dubialidade 
que paira sobre suas palavras, suas ações e até no teu olhar...
 Ora tão meu, ora somente seu! 

Quase solfejo assistindo à corrida descabida dos ponteiros 
buscando alcançar os minutos que fogem dos segundos. 
Eu me enlaço nas horas e num esforço preguiçoso e frouxo
 procuro a reflexão do nada... Sorvo sem pressa o vazio da mente,
 busco lembranças doloridas e esperanças dormidas
 e elas chegam quando meu neurônios querem num ato de descaso,
 fazer a faxina mental. 

Continuo com os olhos fixos nos ponteiros que não retrocedem, 
Pois é na marástica melancolia que o seu trabalhar cria... 
No tic-tac onomatopeico eu penso tudo e penso nada! 
Nada caminha com tudo e tudo caminha com nada. 
Assim, torno em horas mortas as horas que o relógio marca... 

Já não posso retroceder nos meus sentimentos 
e nem nas vontades que arrastam minha mente para os devaneios 
que me faz viver na alma e morrer nos minutos, 
já que a concretude de tudo não é somente algo maior que sonhos.
 E sonhos não são grandes? Sim são, mas o devanear é apenas cinza,
 comparado ao fogo do viver “de vero.”. 

Pensar e rolar de um lado pro outro 
nessas horas mornas é apenas sustentar o fôlego,
 pois depois que a letargia toma o corpo e a mente embota,
 nada mais se retêm para proveito na aurora,
 e no ocaso, mais uma vez vem a inutilidade sinfônica do tic-tac retorcer meu ser...
E de novo me vem os pensamentos que não te decifram.

Marly Bastos

sábado, 27 de outubro de 2012

BLOGAGEM COLETIVA ESCRITOS LISÉRGICOS "LENDAS URBANAS"/ BICHO-PAPÃO, TENHO MEDO DE VOCÊ!




Bicho-Papão, tenho medo de você!


O bicho-papão é uma figura fictícia mundialmente conhecida e é usado pelos pais para assustar e impedir que as crianças desobedeçam. É uma das maneiras mais tradicionais que os pais ou responsáveis utilizam para colocar medo em uma criança, no sentido de associar esse monstro fictício à contradição da criança em relação à ordem ou conselho do adulto: “Não desobedeça, senão o Bicho-Papão vem te pegar...” 

Segundo a tradição popular, o bicho-papão se esconde no quarto das crianças mal educadas, nos armários, nas gavetas e debaixo da cama para assustá-las no meio da noite ou surge nas noites sem luar e coloca as crianças mentirosas em um saco pra fazer sabão. O bicho-papão é a personificação do medo, um ser mutante que pode assumir qualquer forma de bicho, um ser ou animal frequentemente de aspecto monstruoso comedor de crianças, um papa-meninos. Está sempre à espreita e é atraído por crianças desobedientes. Então, as crianças sentindo-se sozinhas e desamparadas, tendem a obedecer. 

Lendas são lendas e são lendas porque acreditamos nos mitos que elas acalentam e que a nossa imaginação alimenta. 

Eu fui uma menina de roça, e acreditava em todo tipo de coisas que inventavam e me contavam: Mula-sem-cabeça, da velha atrás do toco, de contar estrelas e criar verrugas nos dedos, de virar os olhos quando o galo cantasse ficava vesgo, e do Bicho-Papão. Aliás, do Bicho-Papão eu sempre tive medo, lembro que sempre olhava debaixo da cama pra ver se não tinha ninguém lá. Talvez, esse medo todo fosse por eu ser teimosa, birrenta,“fantasiosa” e meio levada da breca... E quando passei a dormir sozinha num quarto, ele começou a me aterrorizar. ... 

Era noite escura e de muita chuva. Isso bastava para eu tremer debaixo das cobertas [medrosa não, eu tinha imaginação fértil] e comecei a ouvir um barulho debaixo da minha cama... Tudo escuro e sem energia elétrica, mas eu tinha que ver o que estava lá. Olhei e dois olhos brilhosos e vermelhos me espreitavam! Uma paralisia tomou conta do meu corpo, uma mudez se instalou em minha garganta, meus olhos secaram e eu não tremia, mas tinha tiques nervosos. Fiquei dura, a respiração pesada fazendo barulho e eu não conseguia controlar. O Bicho-Papão estava lá e ia me devorar [nunca fiquei sabendo como ele devorava crianças, se comia inteira, se aos pedaços, se somente o coração...]. 

O terror se apossou de mim, espasmos sacudiam meu corpo que deveria ficar quietinho. De repente senti dedos sorrateiros por sobre os lençóis em que eu me cobria e um frio na minha espinha congelou-me... Mãos peludas contornaram meu pescoço e eu pensei ser meu fim, de olhos fechados aguardei a morte! Ouvi no ouvido um sussurrar, um ronronar que me parecia familiar, abri os olhos e vi os olhos brilhantes do Bicho-Papão a um palmo ou menos da minha cara. Puf, a energia elétrica voltou, as trevas se fizeram luz e o Bicho-Papão se transformou no meu gato Siamês[ah, gato levado!] Eu tinha sete anos na época, e de lá pra cá sempre desconfiei que Bicho-Papão fosse na verdade gatos traquinos que em noites frias e escuras, queriam o aconchego do dono. 
Marly Bastos 


Este post faz parte da Blogagem Coletiva Lendas Urbanas, promovida pelo blog Escritos Lisérgicos , em parceria com o blog Uma Pandora e Sua Caixa . O Bicho-Papão é uma lenda mundial e com uma variação enorme de nomes.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

NOSTALGIA


foto da Web

Nostalgia, ah nostalgia!

Vejo em ti uma transparente fatalidade...

Suplício Tântalo, tocando o inatingível com os dedos frios da solidão .

Enquanto isso, o tempo vai passando pela ampulheta da vida,

transformando em intempéries os prazeres e dores,

que debulham no vão do ser, 

sentimentos ora extrapolados, ora tão calados



Nostalgia, força arbitral!

Que faz brotar da saudade a lágrima

e do desejo, um gemido mudo.

Que centrifuga sentimentos,

extraindo imos labirínticos e ocultos

fazendo a força motriz se achar no efeito

e se perder na atração.



Nostalgia... Sentimento vazado,

num sol que arde ou numa lua que encanta

e que em horas longas,

cantam o existir ríspido de saudades insólitas

ou de detalhes tão detalhes,

que nem parecem provocar esse arpejo dentro da gente...

A nostalgia às vezes, parece com um adeus que nunca partiu.



Marly Bastos

sábado, 13 de outubro de 2012

PALAVRA


Tenho me mascarado nas palavras que lanço ao vento e me escondido nas entrelinhas que deixo para formar as reticências, nas quais vou navegando minhas impossibilidades e me fazendo entender pelas metáforas que a vida vai lançando. 

Às vezes, as palavras me são vento de moinho, por outras vezes, um pé de vento que levanta a poeira das coisas velhas e ocultas. Também tem dias que elas formam um vendaval em minhas emoções e me arrancam do chão de maneira quase arrebatadora. 

Eu amo as palavras! Através delas o mundo invisível se move e o visível se concretiza. Sou feita de palavras! Palavras que muitas vezes curam e também ferem; que apaziguam ou provocam guerra. Eu firo com as palavras, mas as palavras também me ferem. As vezes elas são lanças que me atravessam o peito, ou bálsamo que refrigera minha alma.

Tenho uma língua afiada e sou de fácil verborragia, mas tenho aprendido que no silêncio é que se formam as maiores fortalezas, embora nem sempre ajo como tenho aprendido... Num ímpeto que me treme o imo, solto todo vernáculo aprisionado na cela da boa convivência, sendo guardado pelo carrasco da prudência e depois amargo nos açoites do arrependimento já que palavras não voltam atrás. 

Sim eu amo as palavras! Sou amante de todas as que posso grafar e por vezes, no supetão da paixão, torno-me escrava das que pronuncio e dona absoluta daquelas que calo. Enfim, sou palavras e sou silêncio... Sou o emudecer das coisas que deveria pronunciar e o tagarelar de coisas que deveria silenciar. Sou humana e ainda não me formei na sabedoria...
                                                                       Marly Bastos

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Desconexão vocabular

          Vendo uma foto de pescaria do pai, o menininho pergunta pra mãe que peixe era aquele que parecia um tubarão. A mãe achando engraçada a comparação, explica que aquele peixe é um "Filhote".
          O menininho fica por longo tempo olhando a foto  e diz:
          - Se esse é um filhote, que tamanho enorme deve ser o papai e a mamãe dele!




Foto de um Filhote (ou Piraíba), peixe de água doce que mede até mais de 3 metros e pode pesar mais de 200 kilos.
Marly Bastos